23 outubro 2013

Picnic com água fresca

Na frente da casinha, um gostoso picnic. Foto Gabriela Giovanka

Tangará-dançador foi o primeiro a dar boas-vindas aos convidados. Em seguida, olhos afiados perceberam um casal de gaviões-de-rabo-branco e beija-flores “à jato”, segundo um dos alunos. “Todos em silêncio, primeira lição que aprendemos para observar passarinho”. 

Com os binóculos doados pela Birder’s Exchange e os Guias de Aves, presente dos amigos Edson Endrigo e Pedro Develey, as duplas seguiram pelas trilhas entre perguntas inquietantes e silêncios ­instigadores. Essa saída de campo estava programada desde o mês passado com a Professora Sileni e a Secretaria de Educação de Alfredo Wagner. Um ônibus escolar trouxe os alunos de Picadas até o início da estrada de acesso à Reserva; dali à grande ponte seguiram de Tobata, gentilmente cedida pela professora com o seu marido na boléia. 

Num clima perfeito e pouco tempo para tanto querer e conversar, como diriam depois, as crianças observaram, curiosas, “trilhas sem fim” e árvores pouco ­conhecidas, embora nativas: Inga, Imbuia, Imbira, Corticeira...

casinha ganhou um comentário da avó de um dos alunos, pois frequentava a furna quando criança: “então, a casa deve ser muito velha, mesmo!”, constatou o garoto, eufórico.


Hora do picnic
Toalha na frente de casa, guloseimas preparadas pelas mamães, titias, vovós e uma deliciosa torta de banana da Gabi encerraram a visita. Porém, queriam mais: conhecer a casinha por dentro, o rancho, nosso pequeno museu com cascas de cobras, insetos, penas e esqueletos. Ficou tudo para a próxima visita, num dia inteirinho na Reserva, nosso Paraíso, onde produzimos sombra e água fresca para esta e para as futuras gerações, com carinho, com certeza e apoio da SPVS.








05 outubro 2013

Roda no Mercado São Jorge

Apitos, flautas de taquara, sementes amazônicas a pais curiosos no espaço da Tuktuk Mamamuk

Mercado São Jorge é um espaço orgânico. Primeiro, por oferecer alimentos orgânicos e certificados; depois, por incorporar desde café servido na hora, pianista ao vivo, agência de viagens e apoiar projetos, como o Virando a Mesa que propõe o uso do Açai da Mata Atlântica. Proposta que de Mercado tem o nome além de gente bonita provando bebidas de São Joaquim, crepes franceses e licores produzidos e oferecidos pelos seus produtores.
Para deixar tudo ainda mais orgânico, o espaço oferece móveis, massagens, produtos de beleza e sorrisos.
Convidados pela Nadine da Tuktuk Mamatuk para, no dia da Ave, lançar nosso Poster de Aves da Amazônia, mostramos um pouco do que acontece em nossa Roda de Passarinho quando estamos em Expedições pelos biomas brasileiros.
Muitas crianças entraram e saíram da Roda, movimento próprio de mercados, com as mamães e papais trazendo seus acanhados pimpolhos que logo se soltavam aos sons de aves e curiosas sementes, flautas e pião Waimiri-atroari. Pouca demora não queriam ir embora, mesmo com a insistência dos pais. :)
Tudo muito bacana com direito a sábado ensolarado e vento sul.
Ao final, as crianças ganharam fotos e apitos de aves de presente. Uma festa!


Frango-dágua desperta muita curiosidade com seu ninho na lagoa
Passarinho e pirulito na Roda do Mercado
Mamãe alegre com atividade dos filhos e Nanci, uma das sócias da Tuktuk Mamamuk, nossa anfitriã.


Gabriela numa pequena Roda de Passarinho em volta do Poster das Aves da Amazônia

18 setembro 2013

A Roda de Passarinho no Moinho de Timbó

Cada criança ganhou uma foto original com a chancela da Reserva Rio das Furnas. Foto Fernando Raddatz

Sob o assoalho, um Moinho centenário gira sua roda sem parar. Produzia farinha com a força das águas do Benedito, rio abençoado por conta da grande quantidade dos peixes de outrora. 

Região de grandes enchentes, há dois anos esta sala ficou debaixo dágua, até a viga! 
Do rio dos Cedros vem a água que passa por Timbó, uma das cidades do Vale Europeu preferida por ciclistas, naturalistas, orquidófilos e observadores de aves.

Maicon Mohr/Coave nos convidou  para o Avistar Vale Europeu, e lá fomos com nossa Roda de Passarinho, fotos, posters, sementes, Floresta, Pantanal, Amazônia e História. 

Este Avistar, uma das sementes do Guto, mostrou o quanto o Brasil precisa despertar para a Observação de Aves, abrir seus parques, incentivar a formação de Guias especializados, traçar roteiros e descobrir Santa Catarina, assuntos da palestra de Tietta Pivatto

Nas saidas com Alexandrino e Adrian Rupp, 60 espécies foram avistadas no Jardim Botânico de Timbó, mesmo o Parque abrindo às oito. Enquanto isso, nossa Roda girava no antigo Moinho, - transformado em local para eventos: Thapyoka - para os alunos do Colégio Municipal de Indaial, com as professoras Rubia e Beatriz, além de vários fotógrafos ao redor, louquinhos de vontade de virar criança para rodar pião de tucumã, girar bola na tarrafa e ganhar fotografia de passarinho. 

Felicidade estampada na foto de Fernando Raddatz, Pousada Rio dos Touros.

Os alunos preferiram ficar sentados nas cadeiras do Moinho. Foto Fernando Raddatz

Semente de Sapucaia que trouxemos da Amazonia, fez sucesso. Foto Fernando Raddatz

Gabriela com uma semente de Araucária, conhecida de todos. Foto Fernando Raddatz

06 setembro 2013

Mapinguari, Capelobo e Juma, não; Curupira, sim!



Pois lá no fundo do Amazonas, nas entranhas da BR319, nos encontramos com o Ismael. Isso em 2013, durante nossa Expedição Amazonia.

Filho único de Dona Maria do Vestidão, senhora pequena, magra e forte, dona de uma casa dum lado da estrada e do outro, um igapó absolutamente limpo e delicioso.

Antes de continuar o papo, merecemos um banho, pois sim! “Só tem que cuidar com a sucuri, nos avisa assim que catamos sabonete e toalha e partíamos sedentos pro igapó.

Dona Maria construiu uma capelinha na frente da casa para a sua reza diária e de quem passe por ali, necessitado de fé, ou para os raros aventureiros, feito a gente.

Mael, como é conhecido Ismael, carrega sobrancelhas tipo taturana, preta e vasta numa carinha de pouco sorriso, dentes um tanto maltratados e bigode por vir, é super atencioso e atento. Primeira coisa que pedimos foi conhecer a trilha que era mantida ali para pesquisadores do INPA e para incursões de caça só do Mael. Seu território absoluto e nem poderia ser diferente, veja se não:

“Um dia antes de caçar varro toda a trilha”. Detalhe: são aproximadamente 6 km no meio da Amazonia profunda, como é caracterizada pelos pesquisadores. “Só caço na lua nova, não pode ter luz pro bicho não me ver…” Fizemos a trilha de dia; atravessamos pinguelas improvisadas com troncos roliços, através de miríades de igarapés torcidos, arroios recurvados, caminhos d’água seco, com um, dois ou mais metros de profundidade com até 6 metros de extensão! Às vezes tinha lá um cipó balançando à guisa de apoio, ou um fino galho enfiado no meio para dar um “certo equilíbrio” e rumo antes de alcançar a outra margem. Tudo fechado de floresta… amazônica! Foi suado, confesso.

Teve pinguela que a gente “pulou” - por baixo, claro! - porque seria impossível não escorregar e levar um embaço. Mael, ao ver a gente sofrer horrores para atravessar, de vez em quando ficava preocupado, como também dava risadas às escondidas, ao guiar dois curiosos e despreparados pela trilha que ele sabia de cor e fazia à noite, sem um pingo de luz. Como? Pelo cheiro de trilha limpa e caça perto? Tudo isso e mais.

Bom, na volta antes de sair da trilha sentamos num tronco e tivemos uma conversa reveladora.

Mael nos conta, absolutamente seguro, não acreditar em Mapinguari, Capelobo, Juma… “essas coisas que inventam sem sentido.” Só acredita no Curupira e justifica sem pestanejar: “Curupira é o protetor da Floresta e dá uma ‘pisa’ em quem caça por maldade.”

“Bicho com um olho na testa? (ri, engraçado) fica difícil acreditar em alguém assim ou com boca no estômago; mas, pé pra tras, ah... isso pode sim, pra enganar caçador que quer judiar dos bichos, caçar pra vender, ganhar dinheiro, esse apanha mesmo e tá certo, tem que apanhar... Se mata a caça a toda hora e vende, ele (o Curupira) dá uma ‘pisa no cara’ (...) Eu acredito que tem esse tal de caboclinho, sim.”

Depois a conversa vai para o Juma, uma entidade gigantesca do imaginário popular, da estirpe do Mapinguari, que come os pedaços das pessoas, segundo nosso amigo Mael. Mas ele não acredita nisso, não, e ri de lado…

Juma é o nome de um povo originário habitante do Alto Tapajós que migrou para o rio Madeira; mas também um dos nomes do Mapinguari, conhecido também como Pé-de-garrafa ou Mão-de-pilão.

Enquanto conversávamos com Mael, sons e cheiros desse pedaço profundo da Amazonia rodeavam e nos faziam perceber um mundo gigantesco. O canto das aves seria uma trilha sonora perfeita para um filme, antes que a BR319 fosse novamente asfaltada e os poucos moradores perdessem para sempre a crença em protetores da floresta.

Como estará hoje a mulher que nos recebeu de portas abertas e panela no fogo, com seu filho caçador e a capela pronta para a reza do dia? Afinal, a BR319 parece que está prestes a ser vestida com capa e espada…


MAPINGUARI

Mapinguari (ou Mapinguary) seria uma criatura coberta de um longo pêlo marrom avermelhado vivendo na Floresta Amazônica. Segundo povos nativos, ao perceber a presença humana, fica de pé (possivelmente pronto para o combate ou para a fuga) e alcança facilmente dois metros de altura. Ainda segundo outras lendas, seus pés seriam virados ao contrário (o que demonstra a confusão da sua lenda com a do Curupira, outra entidade do folclore brasileiro), suas mãos possuiriam longas garras e a criatura evitaria a água, tendo, sob a espessa pelagem uma pele semelhante a de um jacaré.

O Mapinguari também possuiria um cheiro forte e desagradável, semelhante ao exalado por um gambá. Esse mau cheiro faria com que sua presa ficasse aturdida, o que permitiria ao ser apanhá-la com considerável facilidade. Conta-se também que a bocarra do Mapinguari abriria-se amplamente, indo da face até o abdômen, liberando também um forte odor.

Caçadores do lago do Badajós no estado do Amazonas, afirmaram ter atirado em uma suposta fêmea (por possuir seios cobertos de pelo) que teria antes atacado um deles. Porém, mesmo ferida, ela teria atraído a atenção de outro exemplar através de urros altos. Seria um suposto macho corpulento de aproximadamente uns 2,5 m de altura, que estaria vindo em defesa da fêmea e tentando atacar o grupo que teria conseguido fugir numa canoa.

Segundo o relato, a criatura não entrou na água para persegui-los e teria ido embora com a sua fêmea ferida. Esta história, supostamente aconteceu em 1967 em Tefé. Quem contou esta história foi o senhor José Lima, nativo da floresta, que hoje mora em Manaus. De acordo com este teórico avistamento, a criatura se assemelha muito ao Sasquatch, o Pé-Grande, que se acredita viver algum lugar na América do Norte.  
 
(Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Mapinguari)


CURUPIRA

O Curupira gosta de sentar na sombra das mangueiras para comer os frutos. Lá fica entretido ao deliciar cada manga. Mas se percebe que é observado, logo sai correndo, e numa velocidade tão grande que a visão humana não consegue acompanhar. "Não adianta correr atrás de um Curupira", dizem os caboclos, "porque não há quem o alcance".


A função do curupira é proteger as árvores, plantas e animais das florestas. Seus alvos principais são os caçadores, lenhadores e pessoas que destroem as matas de forma predatória.
Para assustar os caçadores e lenhadores, o curupira emite sons e assovios agudos. Outra tática usada é a criação de imagens ilusórias e assustadoras para espantar os "inimigos das florestas".


(Fonte: http://lendasdobrasil.blogspot.com.br/2010/10/lenda-do-curupira.html)




JUMA

Os Juma, inimigos míticos dos Jarawara, invadiram inesperadamente a aldeia e mataram todos para comer, pois eram canibais. Apenas uma jovem escapou e para não ser pega, colocou o seu sangue menstrual em uma flecha e em sua axila, e fingiu-se de morta. Um homem Juma, passando, reparou na beleza da menina e pensou consigo mesmo que se ela não estivesse morta, a levaria para ser sua esposa. 
 
Ele então percebeu que tinha esquecido a sua faca (feita de taboca) e gritou para um de seus companheiros trazê-la, o que ele não fez, pois estava muito ocupado cortando e carregando as inúmeras vítimas. Para verificar se a menina tinha realmente falecido, o Juma a bateu com um pau, escutou suas batidas cardíacas e colocou um pedaço de capim em suas narinas. A jovem não reagiu em nenhum momento.

Convencido, ele a cobriu de paus e foi buscar sua faca. Assim que ela ouviu os passos dele ao longe, jogou no mato os paus podres que a cobriam, saiu correndo e se escondeu dentro do buraco de um pássaro, em uma árvore. Ao retornar, o Juma foi incapaz de achá-la, e depois de um longo tempo a sua procura, resolveu ir embora. A jovem então saiu do buraco e foi andando pela floresta, onde encontrou dois animais mortos e forrados no pé de uma árvore, que ela então subiu. Um homem chegou carregando diversos macacos mortos, pois ele havia saído para caçar antes do massacre. Ela gritou lá de cima da árvore para chamar sua atenção, mas ele não quis olhar. Ela contou que os Juma tinham matado todo mundo, e só tinham sobrado eles dois.

Descendo da árvore, a jovem falou para o homem ir buscar a linha de algodão que ela havia tecido e a farinha branca (iawa) que estavam sobre sua rede. Chegando na aldeia, ele pegou a linha e a farinha e já de saída gritou: “tem alguém ai?”. Um Juma respondeu: “está faltando um”. Ele saiu correndo até onde estava a jovem e os dois continuaram andando na floresta. Ela fez duas redes com os fios de algodão e depois prepararam o jantar. A jovem casou-se com o homem e ambos ficaram morando escondidos dos Juma. Tiveram vários filhos, e quando estes cresceram, o pai explicou-lhes que eles deveriam se casar com suas próprias irmãs, o que eles fizeram. Todos tiveram muitos filhos e seu povo cresceu novamente.

(Fonte: http://pib.socioambiental.org/pt/povo/jarawara/617)


18 agosto 2013

O presente da Birder's Exchange

Seis binóculos é a conta certa, pois são 12 alunos. Guia e Foto na mão da dupla e vamos lá! Foto Renato Rizzaro

Vem cá, quero apresentar uma pessoa maravilhosa! Assim, pelas mãos de Edson Endrigo conhecemos Betty Petersen, com seu sorriso franco e fala doce, durante o Avistar 2012. Conversamos sobre a ReservaRoda de Passarinho e trocamos emails

Estava alinhavada a ponte que trouxe seis binóculos novinhos em folha até as crianças de nossa comunidade. Mas Betty não verá este News, pois em junho deste ano o seu coração, sempre cheio de vida, parou. 

Tudo o que Betty semeou em seu caminho continua através de muitos olhares e lembranças, um dos maiores exemplos de generosidade, carinho e bom humor que a comunidade de observadores de aves tem até hoje. 

Agora, com estes luminosos binóculos, seguimos com a criançada a buscar o impossível a olho nú: formas, jeitos de bicos e patas; penas eriçadas, bochechas e sobrancelhas, deleite.

Anú deixou de ser Sabiá e Carrapateiro fica, de verdade, em cima do boi; o olho do João-de-barro é castanho e tem Urubú lá longe, vês?

Almas como a de Betty transformam-se em passarinho, com certeza. Pegue um binóculo e olhe com calma: é certo avistar Alma-de-gato, Ariramba-do-paraíso, Alma-de-mestre, Pomba-da-paz, Pássaro-do-sol, Paradjanov, Kurosawa, Fênix. Enfim, o homem sem gaiola.

Primeiro é preciso saber usar o binóculo. Foto Gabriela Giovanka

Para quem usa óculos: um truque especial. Foto Gabriela Giovanka

No começo é um difícil, mas logo logo, pega-se o jeito! Foto Gabriela Giovanka

Nossas parceiras: a Secretária de Educação de AW Valneide Campos, e a professora Sileni com a gurizada. Foto Renato

Quando a gente aprende a cuidar tem pra sempre! Foto Gabriela Giovanka


Ensaiamos uma saída de campo no pátio, da próxima subiremos o morro. Foto Renato Rizzaro

31 julho 2013

N E V E M O S

Madrugada iluminada na Reserva. Foto Renato Rizzaro

Moradores de São Leonardo nunca viram nada parecido; um espetáculo fantasia, diziam. 
Nosso encantamento começou lá no Alto da Boa Vista, vindos da Ilha, ao avistar as montanhas espatuladas de branco puro, tanto que nem o azul profundo e denso do céu conseguia tingir. Subimos a Serra e por ali ficamos até o sol plantar fogo. Então, descemos o canyon da Reserva e visitamos estrelas.
Dia seguinte, a surpresa: neve nas árvores, na beira do rio, espalhada pelos telhados, torrões pelo chão, água congelada, absolutamente tudo banhado de céu, bleu.
A letargia no vôo do beija-flor pelas minguadas flores apontava para o termômetro a menos dois e nem o sol, poderoso, conseguia esquentar a furna. Descongelados, os canos cuspiram barro e as frágeis folhas tostaram.

O tempo, sempre atrasado por estas bandas, parou de vez e sobrou hora naquele dia para sorver um outro ar, picante, temperado, marítimo, polar. Foi então que muito mais do que estrelas cobriram nossos sonhos de profundo silêncio e lua e outro dia veio e juntou semana e cheiros e afazeres... Naquele instante, ora, nevamos para sempre.


Gabriela na beira do Rio das Furnas. A face Sul ficou assim durante o dia todo. Foto Renato Rizzaro

08 julho 2013

Luz de Outono

A luz, era somente luz e nada mais. Foto: Renato Rizzaro

Semente da Amazônia nas Oficinas do Saber

Gabriela mostra a semente da Sapucaia (Lecythis pisonis) nas Oficinas do Saber. Foto: Renato Rizzaro.
“A Terra é uma bola quadrada que gira parada em torno de nada”. Quando vi o tapete e as crianças nos disseram que desta vez a Roda sairia quadrada lembrei desta quadrinha, declamada no Grupo Escolar Professor José Escobar, nos meus tempos de escola primária, no Bairro do Sacomã, em São Paulo. E, sobre o tapete resgatado na Comcap, momentos antes de virar aterro, aconteceu a mais nova Roda de Passarinho.

Nas mãos da Gabi um presente dos amigos Edson e Annelyse, de Alter do Chão: o fruto da Sapucaia (Lecythis pisonis). Artesãos transformam-na em pote ou abajur; suas castanhas são comidas cruas, cozidas ou assadas, tal qual as castanhas-do-pará e a árvore chega a 30 metros, com belas flores arroxeadas.

A Roda iniciou diferente, com o vídeo do Programa Terra da Gente produzido na Reserva. Novidade que a galerinha assistiu e curtiu; só depois fomos ao tapete.

Levamos duas Caixas de Aves, uma da Floresta Atlântica doada pelo SuperImperatriz e outra, com as Aves do Pantanal e algumas da Amazônia. Nem deu tempo de mostrar os posters, também doados pelo SuperImperatriz, que ficarão expostos nas salas das Oficinas do Saber
Logo após o playback das aves, a flauta de bambu ressoa na Roda. Silêncio.

A música fascina e a meninada tem vontade de aprender a fazer uma flauta igual, transversal. Faz parte da Roda ensina-los a gostar do improviso e dos instrumentos feitos em casa.


Nossa atividade de uma hora estendeu-se por quase quatro! Saímos das Oficinas do Saber satisfeitos por sentir que todos são bem cuidados por atenciosos professores e voluntários.

Assista ao video de encerramento desta Roda, clique aqui.

Gabi faz exercícios para "acordar" a galera ente uma e outra atividade. Foto: Renato Rizzaro.

Detalhes como o bico virado do passarinho são evidenciados na Roda. Foto: Gabriela Govanka.

Comparando e lendo nomes populares e científicos. Foto: Gabriela Giovanka.

Momentos antes da abertura da primeira Caixa de Aves. Foto: Gabriela Giovanka.

No pátio das Oficinas, depois de conhecerem a Tokynha por dentro. Foto: Renato Rizzaro.

13 junho 2013

Late Jacu, late!

Jacuaçu (Penelope obscura) fotografado por Renato Rizzaro na Reserva Rio das Furnas


Cachorro! Gritaram os alunos ao som do playback do Jacu. Dizem que sua voz se parece com o rufar de tambores, pra nós a gurizada está certa. Jacu late. Extremamente arisco, estático quando percebe um mínimo movimento, quando voa é estabanado, não raro tromba nos galhos entre dois pontos onde resolve cruzar. Temos uma foto onde ele parece um espanador atravessando o espaço. Contudo é elegante e prefere caminhar nos galhos e no chão.

Monógamo, o casal acaricia-se na cabeça como fazem os papagaios; come frutas, folhas e brotos; caça moluscos, gafanhotos, pererecas, porém algum tupi apressado batizou o bicho de Jacu, quer dizer o que come grãos. Os da roça chamam  jacu-véio. Por conta do papo?

A ninhada de dois ou três já nasce de olho aberto e excitada, abre e fecha a cauda, sacode a cabeça como os adultos e na presença do homem acelera estes movimentos ao máximo. 

Aracuã, jacutinga e mutum, seus parentes, são o que de mais nervoso e barulhento existe na Natureza. Exageramos. É um dos grupos mais ameaçados da América Latina, segundo Helmut Sick. O Jacu praticamente desapareceu de São Paulo por conta da destruição das florestas e da caça indiscriminada. 

Certa vez, Fritz Müller escreveu a Darwin: “No inverno frio de 1866 apareceram tantas jacutingas nas baixadas do rio Itajaí que, em poucas semanas, foram mortas aproximadamente 50.000”. Leia: CINQUENTA X MIL. 

Hoje, esse parente do Jacu é raríssimo em Santa Catarina, a História foi esquecida e nós humanos seguimos seguros de que somos os únicos a merecer a eternidade. 


Mas um Jacu ainda late...

18 abril 2013

Projeto Conheça Alfredo Wagner na Reserva Rio das Furnas

A tradicional foto do passeio, por Renato Rizzaro

Visita à Reserva Rio das Furnas (Carol Pereira)

No dia 15 de abril nosso destino foi a Reserva Rio das Furnas. A Reserva está inserida emum canyon no Alto da Boa Vista, em Alfredo Wagner. Faz parte do divisor de águas mais importante do estado de Santa Catarina, área de tangência entre as bacias dos rios Tijucas, Cubatão, Tubarão e Itajai-açu.
Fomos recebidos pelos proprietários da Reserva Particular do Patrimônio Natura (RPPN), Renato Rizzaro e Gabriela Giovanka. Nos sentimos como se estivéssemos em um refúgio, uma área em que a natureza se renova e nos mostra toda sua exuberância.
A Reserva fica na comunidade de São Leonardo. Fomos até lá detransporte escolar, generosamente cedido pela Secretaria Municipal de Educação, assim como em todas as outras viagens do projeto. Deixamos o veículo na ultima casa da comunidade e seguimos a pé. Foram 3km de uma extenuante caminhada em meio a uma mata que à medida que avançávamos podíamos perceber seu renascimento.

Renato nos encontrou logo na entrada da Reserva, andamos mais alguns metros e logo já avistamos a casa centenária. Construída a partir da madeira de três araucárias cortadas a mão e trazidas até o fundo da escarpa no lombo de mulas, a casa foi erguida por um dos antigos donos das terras, o senhor Orlando Althoff. Lá renovamos nossas energias com a água incrivelmente fresca da Reserva.

Tivemos uma proveitosa conversa com os proprietários que nos contaram um pouco sobre a paixão pela vida simples, o contato com a natureza e sobre suas continuas formações. Quando eles compraram a reserva, boa parte dela era pastagem para o gado. O trabalho de regeneração já dura 13 anos, tempo que o casal se dedica a Reserva, e, apesar de ser um tempo geológico relativamente pequeno, os sinais dessa maior atenção e desse maior cuidado dados à natureza já é visível.

Na local existem sete cachoeiras e 237 espécies de aves já identificadas, além de contar com diversas espécies de mamíferos já fotografados por um sistema de câmeras, que fotografa por meio de sensores de movimento. Entre os animais que já posaram para as fotos está até mesmo um Puma concolor. No relato sobre a viagem até a comunidade de São Leonardo falamos sobre os frequentes ataques que o rebanho de ovelhas da Fazenda São Leonardo sofria pelos pumas.

Gabriela nos alertou de que pumas, também conhecidos como leões-baios ou suçuaranas, necessitam de uma grande área para sobreviver. Os ataques acontecem devido a crescente destruição dos habitats e, consequentemente, da diminuição da disponibilidade de alimentos. É por isso que às vezes os pumas atacam pequenos animais domésticos como ovelhas e bezerros e, são frequentemente perseguidos por fazendeiros, situação essa em que o proprietário da Fazenda São Leonardo não se enquadra. Ainda assim é comum ouvirmos histórias e até mesmo vermos fotos de “leões” mortos por fazendeiros aqui em nosso município, principalmente na Serra da Santa Bárbara e na Região do Campo dos Padres.


Após a conversa fomos convidados para uma agradável caminhada pelo bosque, porém nosso tempo era demasiadamente curto e estávamos atrasados. Apesar disso ainda pudemos conhecer um pouco mais sobre a vegetação da Reserva. Vimos uma árvore de imbuia e Renato nos convidou a ficar em circulo, nos fazendo imaginar como aquela árvore se tornará imponente daqui a centenas de anos e isso nos faz refletir em como a natureza é algo tão forte e frágil ao mesmo tempo.

Na volta paramos em frente à casa para a nossa já tradicional foto do passeio. Os alunos estavam encantados, assim como os professores e não queriam vir embora, pediram para os professores para ficar e comer apenas o pequeno lanche que tinham levado, apenas para poder desfrutar por mais algum tempo daquele belo lugar, mas infelizmente tínhamos que voltar para a escola.

Antes de realizar o passeio tínhamos assistido o programa especial sobre a Reserva Ecológica Rio das Furnas do Terra da Gente e a frase que havia nos chamado atenção “Produzimos sombra e água fresca” se mostrou verdadeira.
Produzindo sombra e água fresca eles resgataram um verdadeiro paraíso dentro de nossa cidade, aquele é um lugar que é um retrato de nossa Alfredo Wagner; belas paisagens, relevo e biodiversidade riquíssimos...

12 abril 2013

Exposição e entrega de Posters das Aves da Floresta Atlântica em Biguaçu

Biguá (Phalacrocorax brasilianus)
Muita, mas muita gente, mesmo, fica absolutamente extasiada quando vê que o olho do Corvo-marinho tem a cor de jade. Mudam a expressão diante deste olhar brilhante de uma ave que, como tantas outras, cismam chamar de comum. A denominação de "comum", acaba por fazer com que não dêem muita bola para certas aves que parecem estar por tudo quanto é canto. Mas quando observam de perto, como é o caso de nosso Biguá, mudam de opinião rapidinho. Aconteceu no dia 20 de março de 2013, na Exposição Aves da Floresta Atlântica em Biguaçu. 

Várias pessoas comentaram e uma delas soltou a frase "Ah, se eu soubesse que o olho desse bicho era assim tão bonito...", outra: "Nunca imaginei que um Biguá tivesse um olho dessa cor...", e ainda mais: "Agora sim, posso dizer que conheci uma ave belíssima, que sempre esteve ao alcance do olhar, mas nunca tinha observado com tamanho detalhe."

Nossa ideia de distribuir os Posters de Aves da Floresta Atlântica, inicialmente em Santa Catarina, vem acontecendo pouco a pouco. Iniciamos este trabalho em 2005, na Reserva Rio das Furnas e logo expandimos para o município de Alfredo Wagner com uma exposição e a posterior distribuição dos Posters nas salas de aula das escolas básicas municipais.

Num segundo momento fizemos exposições em Blumenau, Rio do Sul e em Ituporanga, onde até hoje estão expostas 50 fotografias no Parque Ingo Altenburg, graças à parceria da Reserva Rio das Furnas com a FUCAS (Fundação de Assitência Social) e com o Ministério Público de Santa Catarina.

A ideia da Exposição e posteriormente de um material que pudesse ser utilizado pelos escolares de Biguaçu começou com o fotógrafo Henrique Azevedo, na época criador e presidente da FAMABI.
Sua equipe, principalmente Fabricio Almeida logo abraçou a ideia e, em meados de 2012 começou a sair do papel. No final do ano foi apresentada numa reunião do Rotary Clube de Biguaçu e seis empresários bancaram a ideia.

No dia 20 março 2013, lançamento oficial da Exposição das Aves da Floresta Atlântica e entrega dos posters aos professores, com a presença da sociedade de Biguaçu, as aves pousaram em uma nova casa e estarão em exposição, primeiramente no Casarão Born e logo em seguida na Secretaria de Educação. Depois, farão um passeio itinerante pelas escolas, onde já estarão fixados os posters de Aves da Floresta Atlântica em cada uma das 69 salas de aula do município.

A proposta da Reserva Rio das Furnas é que este projeto estenda-se, num primeiro momento, ao Estado de Santa Catarina e logo em seguida aos três estados do Sul do Brasil, para atingir finalmente todas as salas de aula do ensino básico de nosso país.

Painel de abertura da Exposição, Fernanda e Gabriela Giovanka. Foto Renato Rizzaro

Casarão Born abriga a Fundação Cultural e foi palco da Exposição de Aves em Biguaçu. Foto: Renato Rizzaro

Renato Rizzaro entrega o Poster para professora da Rede de Ensino de Biguaçu. Foto: Gabriela Giovanka

Entrevista com Henrique Azevedo e Renato Rizzaro para o Jornal de Biguaçu. Foto: Gabriela Giovanka

10 abril 2013

Produtores de Sombra e Água Fresca

Wilson, Rudimar Cipriani, Marcelino, Gabriela e Eduardo na Trilha do Puma. Foto: Renato Rizzaro

Em janeiro enviamos tantos News que resolvemos dar um tempo na sua caixa de emails fechando a fase Expedição Amazônia que tanto prazer e assunto rendeu. Agora, voltamos com novidades.


A primeira novidade: em fevereiro recebemos a visita da equipe da EPTV de Campinas, São Paulo. Uma dica do amigo Edson Endrigo para o Programa Terra da Gente que veio até Santa Catarina para filmar a Reserva Rio das Furnas, “um paraíso verde”. 

O pessoal foi dedicado, brincalhão e nos deixou à vontade, tanto que não demorou muito e já entramos no clima da reportagem. A edição ficou belíssima e emocionante.

O Programa pode ser visto clicando aqui: PARTE 1 - PARTE 2

A segunda novidade veio do ICMBio de Brasília: saiu a publicação no Diário Oficial que transformou toda nossa área em RPPN - Reserva Particular do Patrimônio Natural.

Em 2001, quando adquirimos esta área, constavam 28ha no documento. Com a elaboração do Plano de Manejo pela SPVS, em 2008, foi feito levantamento topográfico georreferenciado, obtendo-se uma nova medida, agora correta, de 53,5ha. 

A regularização demorou vários anos e também contou com a apoio de Sérgio Biasi, ex-prefeito de Alfredo Wagner, que gentilmente acompanhou todo o processo Cartorial.

Eduardo Lacerda, jornalista e produtor do Programa Terra da Gente, revelou a essência de nossas ações ao escrever: 

“Produzimos sombra e água fresca”, brincam os donos da Reserva. Benefícios que transcendem a distância, e também o tempo. A continuidade deste trabalho pode garantir que novos xaxins possam nascer e se tornar centenários. Que a Imbuia garanta sombra nos próximos séculos e que o exemplo de conservação possa sensibilizar um número incontável de gerações em benefício da Natureza.


O fogão ganhou takes por dentro e por fora e a comida ficou deliciosa. Foto: Renato Rizzaro
As filmagens foram iniciadas com um dia espetacular! Foto: Gabriela Giovanka

A Superzoom foi buscar aves a mais de 100 metros de distância! Todo mundo babando... Foto: Renato Rizzaro

Uma tropa afiada para captar um ninho de caranguejeiras na estrada de acesso. Foto: Renato Rizzaro


Centenas de filhotinhos na boca do ninho. Foto: Renato Rizzaro


Crianças fotografam o Matracão. Primeiro registro da espécie para Rudimar. Foto: Gabriela Giovanka


Acharam um "chapeuzinho" passeando pela Cerejeira. Foto: Renato Rizzaro


Edu fez altas filmagens com a pequena GOPro: piavas comendo ingá. Foto: Renato Rizzaro