01 outubro 2014

Roda de Passarinho Potiguar

Janethy Pereira, futura professora em saída de campo, Acari, RN. Foto Renato Rizzaro

email da Professora Midori Hijioka Camelo nos deixou atônitos! Apresentar a Roda de Passarinho para futuros professores de Física, Química e Biologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e ainda sair à campo na Caatinga? Após alguns meses trocando mensagens, repartindo ideias e intenções, rumamos a Natal em agosto com penas, pele de cobra, sementes, tarrafa, pião indígena, flautas de taquara, posters das aves, fotos, guias de campo, binóculos, cadernetas preenchidas por crianças e 60 em branco, especialmente para esta atividade.

Após aconchegante acolhida por nossa anfitriã Midori, partimos ao Centro de Educação da UFRN onde nos esperavam mestres empolgados e super organizados: a própria Midori, Josianne, Lucrécio e Marlécio que cuidaram desde o local para apresentarmos nossas primeiras atividades, à liberação da van e das reservas na Pousada Gargalheiras, estupenda escolha onde comemos e dormimos, ao luar e uivar dos ventos, antes de partirmos para a Caatinga.

A escolha do Parque das Dunas para a Roda foi espetacular! Em dois dias, anteriores à saída de campo, apresentamos para mais de 40 pibidianos o que aprendemos com a Reserva, com as nossas crianças e as expedições aos biomas brasileiros, nestes 13 anos dedicados à conservação e preservação ambiental.

Agradecemos a estes mestres da UFRN, e aos pibidianos, pela oportunidade de repartir, experimentar e conviver durante uma semana que, sinceramente, gostaríamos fosse espichada. Porém, como escreveu Vivianne Araújo, uma das participantes da Roda: “o tempo voou, igual a liberdade do voo da aves, de tão interessante e prazerosa que foi a atividade”. 

Ler as Cadernetas de Campo recebidas pelo Correio, depois de um mês, foi emocionante. Veja alguns trechos:

“Mesmo sem ter uma receita de como compartilhar, foram criando, redescobrindo, reinventando uma nova maneira de repassar o conhecimento. Na saída de campo libertei meu lado aventureira, deixei aflorar minha criança interior, esquecendo dos problemas e só admirando minha região, por vezes esquecida”. Maria Danielle P. Freitas 

“Fiquei maravilhado com o projeto, iniciativas de educação ambiental como esta deveriam se popularizar mais”. Michel Carlos Bezerra

“Algo que me marcou: as atividades desenvolvidas com os alunos, os desenhos que cada um fez, a criatividade dos caderninhos idealizados por vocês”. Francisco Ismael

“Foi uma experiência única, e podem ter certeza, que a mesma será repassada aos meus alunos, colegas e amigos”, Tuany Mariah

“Excelente oportunidade para aprender novas didáticas para buscar a atenção e interesse dos alunos”. Andrielly Campos

“Quando falaram sobre Roda de Passarinho, imaginei muito trabalho, pesquisa sobre espécies... mas o que encontrei foram pessoas legais com ideias muito da hora”. Edson Araújo

“Como profissional da Educação, vejo que precisamos valorizar cada vez mais a vida! A dinâmica foi fantástica e interessante para ser trabalhada nas escolas”. Joanna Freitas

“Entrei na Roda!... No sentido do coração”. Cassiana de Souza.

“A experiência me trouxe uma forma de aprendizado e de ensino diferentes, podendo abordar em vários aspectos durante minha jornada, tanto de aluno, quanto de professor”. Samyr Saraiva

“Com a Roda pude perceber métodos lúdicos que passo, sem dúvidas, a aplicar em sala de aula”. Antonio Alexandre

“Quando penso que seria mais uma exposição de fotos de pássaros, me surpreendo com a quantidade de cultura e experiência compartilhada...”. Rubens Paiva

“Vi fotos de animais que só conhecia através de desenhos animados”. Robson Rodrigues

“Estava muito empolgada com a Roda de Passarinho, mas superou a minha expectativa em 200%!”. Walleska Juliane C. Leite

26 junho 2014

Cotia filmada na Armadilha da Reserva Rio das Furnas



A Cotia (Dasyprocta aguti) é um herbívoro conhecido pela cabeça alongada e pela cauda curta. Possui quatro dentes incisivos grandes e curvos. Quando ameaçada, eriça os pelos. Vive em pequenos grupos que enterram o alimento (frutas, sementes e raízes) nos períodos de fartura e só os desenterram em períodos de escassez. Abrigam-se em tocas criadas em meio de raízes e troncos caídos. Pesa entre um quilo e meio e 2,8kg. A expectativa de vida é de 14 anos.

27 maio 2014

A Floresta Atlântica nossa de cada dia










Desfecho o dia gripado e com saudades da Reserva Rio Das Furnas, mas antes gostaria de dar uma palavrinha sobre o dia que passou, eleito Dia da Floresta Atlântica. Prefiro falar em floresta, uma vez que mata está muito perto de mato e remete ao verbo, sempre o verbo!

Os quatis que aparecem sorrateiros nas fotos fazem parte de um grande bando que anda pelos galhos e copas das árvores pendentes na escarpa à frente da casa na Reserva. Procuram frutos, mascam grandes sementes, sobem e descem à vontade, parecidos com macacos de tão destros na lida com o emaranhado de cipós, trepadeiras, epífitas, parasitas, bromélias, orquídeas, jerivás, taquaras, tudo porque a Reserva faz parte de num ecótono. O que significa uma área de floresta de transição, com variado tipo de vegetação, desde araucárias, canelas a erva-mate; tendo contato com o campo de altitude, suas matinhas nebulares etc e tal. Mas é tudo Floresta Atlântica, deixa.

Quando penso na Reserva, 10 ha de RPPN criada em 2001 e, com o apoio da SPVS, expandida em 2013 para 53,5 ha, penso em Serviços Ambientais, penso que mantemos por lá um filtro para o Rio Itajaí, pois a Reserva fica numa das nascentes deste rio; a Reserva preserva o solo, evita erosão com as fortes e antigas árvores fincadas em toda a margem do rio das Furnas, que corta a área pelo meio. Fabricamos oxigênio, espalhamos polinizadores, reproduzimos decompositores, enfim, somos produtores de sombra e água fresca, como fomos apresentados num dos programas Terra da Gente.

Somos até reguladores da composição química dos oceanos, ora veja! E ainda por cima, estamos no topo da megadiversidade mundial, brasileiros que somos. Dito isso, olhamos ao nosso redor, e vemos o quê? A limpeza! Sim, paradoxalmente acharam um nome bonito para desmatamento e perda de habitat, o mesmo aconteceu com os venenos aplicados na agricultura, que de um tempo pra cá passaram "misteriosamente" a serem chamados de "remédio".

Então, chegamos na água.
Na Serra da Boa Vista, onde está a Reserva, o fluxo de água vem da superfície, isso quer dizer que a água do dia seguinte é provida pelas gotículas da noite anterior e sucessivamente. É um tema pouco percebido e mais misterioso quando percebemos que o rio diminui mas não some, mesmo depois de uma grande estiagem. Presumo que seja por conta da variação de temperatura entre a noite e o dia que faz com que as minúsculas folhas da vegetação nativa condensem o ar e deixem escorrer entre suas raízes e caules a água que vai engrossar as cascatas, infiltrar no solo e encontrar outras águas vindas de todo lado, pois estamos num canyon: o ralo oeste da Serra da Boa Vista.

Poucos pensam em melhorar a qualidade e a quantidade de água mantendo as florestas, como se água fosse só abrir um poço e pronto. Na cidade tudo é mais simples porque é só abrir a torneira, não é mesmo?

E o clima vai mudando, mudando, muda e só se percebe que mudou de verdade quando saímos da cidade e entramos novamente na floresta. Aí sim, parece óbvio que proteger este conjunto de ecossistemas é essencial. De repente lemos nos jornais que Unidades de Conservação estão sendo leiloadas, que manguezais são loteados, que estradas absurdas são rasgadas sem mais nem menos e beneficiam só o capitalismo, bom, aí a porca torce o rabo, como dizem.

Tem gente trabalhando duro, como o pessoal da SPVS, que alinha o capital com a conservação, através de programas como o Desmatamento Evitado, do qual a Reserva fez parte por cinco anos. Durante este tempo aconteceu muita coisa, entre a medição georreferenciada; a criação do Plano de Manejo; pesquisas com bichos e plantas; manutenção e incentivo à Educação Ambiental e aquisição de Armadilhas Fotográficas de onde saíram registros excepcionais da fauna do canyon. A Reserva, assim, teve dois tempos, o antes e o depois da SPVS. O que aconteceu ao redor? Pinus et pastagem. Agora, estamos num sufoco danado pra manter a área livre do fogo cruel, dos negociadores de aves silvestres, caçadores e dos tais bem intencionados, dizem, que o inferno anda cheio...

E assim seguimos ao fim do dia da Floresta Atlântica, com espirros e nariz escorrendo na urbe que pára devagar, depois dos alarmes disparados, buzinas ao longe, sirenes, luzes e torneiras prontas para o banho quentinho do ascensorista, da família preocupada em fornir a prole, do petê, do pão e do circo, porque ninguém é de ferro, e nem sabe que lá longe tem uma gota que pode faltar na torneira e os quatis, sabe os quatis? Pois então!

23 maio 2014

Charões na Reserva!

Psittacidae Papagaio-charão (Amazona pretrei) Red-spectacled Parrot © Renato Rizzaro


 Já que a época dedica-se a festejar o encontro destas maravilhosas aves, na região de Urupema, vamos expandir a conversa. 

Fato único no Planeta, a reunião de milhares de papagaios na Serra Catarinense começou em meados dos anos 90, desde quando deixaram de encontrar os pinhões, alimento único entre março e julho, no nordeste do Rio Grande do Sul, por conta da destruição daquele habitat. Vale lembrar que as magníficas florestas de araucária foram dizimadas até chegar a 1% na atualidade, levando a perigo de extinção, inclusive, os papagaios.

Maravilha para os observadores de aves, esta é uma festa perigosa para as aves, por ficarem vulneráveis a doenças que podem contaminar o grupo e, o pior, acabarem engaioladas. 

Porém, creiamos que alguns humanos não sejam tão grotescos ao ponto de estragarem a festa dos papagaios e, claro, sua própria, e falemos um pouco do bicho: é um dos menores papagaios brasileiros; forma um casal fiel; enquanto a fêmea nidifica é alimentada pelo macho; destaca-se pela bela máscara encarnada, e aí nota-se a diferença para um outro papagaio, o de peito roxo (Amazona vinacea), seu companheiro de viagem. Muitíssimo menor em quantidade, onde há milhares do charão encontram-se pequenas centenas do roxinho, fazem menos algazarra e até parece que gostam de um certo silêncio. Quem já teve o privilégio de presenciar revoadas de charões em Urupema sabe que é uma berraceira sem igual. Nem uma roda de italianos é mais alegre e barulhenta! 

“Fora do período de produção das sementes de Araucaria, os charões utilizam em sua alimentação frutos, sementes, folhas e flores de dezenas de espécies de plantas nativas e algumas exóticas, destacando-se os frutos de guabiroba (Campomanesia xanthocarpa), cereja (Eugenia involucrata), sementes de camboatá-vermelho (Cupania vernalis), canela (Ocotea puberula).” 

Embora a Reserva tenha estas espécies vegetais, não observamos charões alimentando-se e sim casais cruzando o céu na época do pinhão e, no último 15 de abril, 26 indivíduos voando de Norte a Sul, o que aumenta, provavelmente, a área de registro. Possível tema para pesquisa? A Reserva está aberta e apoia as ações para conservação do Papagaio-charão. 

Para saber mais, clique aqui

Psittacidae Papagaio-de-peito-roxo (Amazona vinacea) Vinaceous Parrot © Renato Rizzaro

14 janeiro 2014

Arapaçu-grande / Dendrocolaptes platyrostris / Planalto Woodcreeper

Arapaçu-grande / Dendrocolaptes platyrostris / Planalto Woodcreeper. Foto Renato Rizzaro


Ninho encontrado no Rancho da Reserva Rio das Furnas, no telhado. Este filhote, dos dois que estão por lá, foi o primeiro a sair do ninho. Uma vez no chão não conseguia mais alcançar o telhado, pois ali estava seu ninho com outro filhote chamando. Foi a primeira vez que este arapaçu fez ninho na parte baixa do telhado, uma vez que há tempos vem utilizando a parte alta do telhado para nidificar. É nosso vizinho constante, pois dorme abaixo dos beirais tanto de casa quanto do rancho.

Pica-pau-anão-carijó / Picumnus nebulosus / Mottled Piculet fotografado na Reserva Rio das Furnas

Pica-pau-anão-carijó / Picumnus nebulosus / Mottled Piculet (femea)

Pica-pau-anão-carijó / Picumnus nebulosus / Mottled Piculet (macho)


É provavelmente a espécie de distribuição mais austral na América, atingindo o sul do Uruguai, além de incluir os estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, no Brasil, e o Departamento de Missiones, na Argentina.

The Mottled Piculet (Picumnus nebulosus) is a species of bird in the Picidae family. It is found in Argentina, Brazil, and Uruguay. Its natural habitat is subtropical or tropical moist lowland forests. It is becoming rare due to habitat loss.